quinta-feira, 20 de março de 2008

CRÍTICAS E COBRANÇAS NÃO MUDAM O PARCEIRO

BOA LEITURA E APROVEITAMENTO!
CRÍTICAS E COBRANÇAS NÃO MUDAM O PARCEIRO,
APENAS O AFASTAM DE VOCÊ
(Leniza Castello Branco)

Um casal não precisa concordar em tudo, nem ficar junto todo o tempo.
Interesses diferentes devem ser respeitados e até incentivados, pois enriquecem o relacionamento. Quando um parceiro insiste em transformar o outro, pressionando-o com freqüência, acaba por deixá-lo tenso e desconfortável, o que põe a união em risco. Afinal , queremos ser amados como somos.

Ninguém é perfeito, por isso é fácil criticarmos nossos parceiros.
Um atraso, um pouco de sal a mais na comida, o esquecimento de alguma coisa
que precisava ser comprada, querer muito ou pouco sexo,
ser bagunceiro ou arrumado demais, tudo é motivo para reclamarmos e exigirmos mudanças.
No fundo, queremos moldá-los ao nosso próprio jeito de ser.
Mas é bom refletir um pouco sobre até que ponto isso pode funcionar.
Claro que quanto mais parecido for o casal, menos pontos de atrito terá.
Mas muitos parceiros têm gostos diferentes e, aí,
sua única alternativa de entendimento é aprender a fazer concessões.
Temos um ideal romântico do casamento pelo qual
imaginamos os casais juntinhos o tempo todo.
Pensamos que casar ou ter alguém é uma forma de preencher nossas carências,
nosso medo da solidão. Mas as pessoas têm necessidades diversas e muitas
vezes precisam ficar sós. Aí é que começa a confusão.
Alguns parceiros se ressentem se o outro reivindica um tempo apenas para si.
Ficam desesperados e cobram a sua presença.
Tal comportamento mostra insegurança e medo de perder, e em vez de atrair,
prender, provoca o efeito oposto:
a pressão afasta a pessoa, que se cansa de ser cobrada.
Há, no limite, quem chegue a proibir o parceiro de se dedicar a
uma vocação ou hobby. Exige que faça uma opção: “Ou o balé ou eu”.
No fundo, o temor é de que o ser amado,
ao se apaixonar por um projeto ou desenvolver-se profissionalmente,
passe a desprezá-lo ou desprezá-la.
No filme Mentiras Sinceras, do diretor Julian Fellowes (57),
o marido pergunta à mulher por que o traiu.
A conversa é mais ou menos assim:
“Sou por acaso cruel, descortês, ou ele é melhor do que eu?
É mais bonito, mais rico, um amante mais eficiente?”, ele pergunta.
Ao que a mulher responde: “Não é nada disso.
É só porque é mais tranqüilo estar com ele. Não exige nada de mim, além do amor.”
O marido retruca: “E isso é bom?”
A mulher responde: “Você é cheio de critérios, de certezas.
Eu sempre o desaponto. Vivo tensa, com medo de fazer alguma coisa errada”.
As exigências, as tentativas de mudar o parceiro ou a parceira
por meio de críticas têm o efeito oposto.
No mesmo filme, o marido ainda pergunta:
“Você me disse que não iria mais vê-lo, mas foi. Por quê?”
E a mulher diz: “Eu estava mentindo.
Você exigiu que eu respondesse o que você pretendia e eu respondi.”
Quando estamos com alguém que nos recrimina,
nos critica e diz a todo momento que estamos errados, nosso corpo entra em tensão. Ao contrário, carinho e elogios têm o poder de nos relaxar,
dão vontade de chegar perto, de nos entregar.
Podemos fazer a experiência. Se apertarmos os músculos,
franzirmos os olhos, cerrarmos os dentes e em seguida soltarmos,
ficando relaxados, vamos sentir a diferença.
O que é mais agradável, tensão ou relaxamento?
Tentando segurar nosso parceiro e exigindo sua presença só
conseguimos que ele se afaste aos poucos de nós.
O casal, além de uma vida em comum, deve ter interesses individuais,
cada um desenvolvendo seu potencial e sua criatividade.
Isso enriquece a relação.
Se um gosta de pintura e o outro de dança ou de matemática,
pode ser enriquecedor trocar conhecimentos, informações.
Quem tem interesses próprios não vai ficar exigindo a presença
constante do outro, nem perder tempo fazendo críticas.
Quando ficarem juntos, um vai colaborar para o enriquecimento cultural e
psíquico do outro e não sobrará tempo para mesquinharias
como “você sempre...” ou “você nunca...
”Sugiro aos casais que se amam que deixem o outro livre para ser quem realmente é.
Quanto mais usar seu potencial, mais alegre e relaxado ficará.
A vida fora de casa, no trabalho, já é difícil e estressante.
O lar deve ser o lugar onde podemos deixar de lado as convenções,
sabendo que nosso companheiro ou
nossa companheira nos ama como somos,
sem qualquer tipo de recriminação.


* Leniza Castello Branco, psicóloga e analista junguiana na capital paulista, é membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA).
E-mail: eniza@castellobranco.com

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